sábado, 3 de novembro de 2007

'Flos Sanctorum' de/from 1513



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Santíssima Trindade, do tipo ‘Trono da Graça

Colocada na folha-de-rosto, em cima e ao cento do cabecel, a terceira a contar da esquerda, mesmo ao lado da imagem do Calvário está outra pequena imagem (38x25 mm.), onde está representada a Santíssima Trindade.
Como sabemos, este é o dogma central do Cristianismo: um único Deus, revelado por Jesus Cristo como sendo três Pessoas. De entre os vários tipos de imagens que pretendem visualizar esta verdade de fé, está esta, cujo tipo iconográfico se designa com o termo ‘Trono da graça’ (Thronum Gratiae, Gnadenstuhl; ou Sedes Gratiae[1]. A presente estampa é demasiado pequena, pelo que o autor se limitou a esboçar somente as figuras. Só o olhar habituado pode descortinar pormenores nela representados. A figura que ocupa praticamente todo o quadro é a de um homem barbado, coroado com o que parece ser uma tiara. Está sentada e enverga uma túnica comprida, de modo que não se Lhe vêem os pés, e sobre ela uma capa pelos ombros, que desce até ao chão. Representa Deus-Pai. Este sustenta à Sua frente, com as mãos, uma cruz, na qual está cravado um Homem pelas mãos e pelos pés. Está nu, somente com um pano à volta dos quadris, encobrindo as partes pudibundas. A cabeça está caída para o nosso lado direito, pelo que se depreende que esteja morto. Parece ter colocada sobre ela uma coroa de espinhos. Colocada sobre a haste horizontal da cruz, vislumbra-se um letreiro com uma inscrição ininteligível, mas que é de supor ser o INRI. A semelhança com a imagem anteriormente descrita permite-nos apercebermo-nos destes pormenores, aqui pouco mais que esboçados. É seguramente a representação de Deus-Filho, Jesus Cristo, morto na cruz. A pomba, representando o Espírito Santo, pousa sobre o ombro esquerdo da figura do Pai.
(...)
A 'gravura' mais antiga impressa em Portugal que encontrámos representando a Santíssima Trindade é precisamente a nossa pequena estampa xilográfica, apresentando o tradicional tema do ‘Trono da Graça’, com a pomba do Espírito Santo pousada no ombro esquerdo do Ancião dos dias.

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Extracto de: Fr. António-José de ALMEIDA OP - IMAGENS DE PAPEL. O Flos Sanctorum em linguagem português, de 1513, e as edições quinhentistas do de Fr. Diogo do Rosário OP - A problemática da sua ilustração xilográfica. Porto: [Texto policopiado], 2005. Tese de doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2005. IIIª Parte, 1/6.
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[1] Não confundir com Sedes Sapientiae, que designa Nossa Senhora, como vemos estampada no recente catálogo da exposição: José Alberto Seabra CARVALHO & José PESSOA - Cores, Figuras e Luz. Pintura Portugues do século XVI na colecção do Museu Nacional de Soares dos Reis. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis, DL 2004. ISBN 972-776-261-1. p. 36.

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